sexta-feira, 14 de outubro de 2011
OTIMISMO E INANIÇÃO
Na noite de ontem, temia que Meimei não viesse a acordar. Durante a madrugada, jamais esquecerei a cena em que acordo repentinamente a vejo próxima à porta do meu quarto me olhando... Seu olhar me amedrontava... Não, não pelo aspecto dela, que, em si era debilitado e comovente, mas frente ao que ele poderia significar.
Na manhã seguinte, Meimei está viva, porém continua tendo diarreias e hemorragia. Ela vomitara várias vezes durante a noite.
A medida tomada é ligar para o Centro de Zoonoses, pois o raciocínio usado é o seguinte: se a função do Centro é prevenir e tratar zoonoses, sofrendo Meimei de uma, é atribuição do Centro tratá-la, pois essa enfermidade, sendo altamente contagiosa, pode afetar o equilíbrio ambiental, contaminando outros animais, constituindo um mal à sociedade. Resultado: a atendente, através dos sintomas relatados por telefone, alega que o animal tem parvovirose. Ela diz que ele pode ser tratado em casa e que, contudo, há necessidade de orientações de um veterinário, coisa que o Centro de Zoonoses não pode fazer por aquele, já que sua atribuição quanto ao "resgate" de animais doentes é praticar a eutanásia.
Procuro as atribuições do Centro de Zoonoses via Internet. Descubro que não há uma regulamentação que uniformize os centros de zoonoses, os quais podem ser de responsabilidade municipal, estadual ou federal - nem nisso há uniformidade, o que em si já desorganiza o funcionamento conjunto das unidades.
Continuando a pesquisa, facilmente encontro em uma página disponibilizada na Internet pela prefeitura de Bauru, página esta que, por sinal, é bastante objetiva, que informa o que são zoonoses, qual o papel do Centro e, de forma bem concreta, quais não são suas atribuições. Lá está escrito que é função do centro fornecer avaliação veterinária em casos de suspeita de raiva ou leishmaniose, o que em si pode abarcar o caso de vários cães (inclusive o de Meimei). No documento, lê-se que não é papel do lugar oferecer consultas veterinárias. No caso do CZ de Foz do Iguaçu, na Internet, só pude encontrar o telefone. No site da prefeitura, são ínfimas as informações a respeito. Quero ligar para lá, pois como vou contestar as ações do Estado se não conheço suas funções? Daí a crítica que faço à postura virtual da prefeitura frente ao tema, o cidadão já começa aí a encontradr barreiras para exigir seus direitos.
Tento ligar para a prefeitura no intervalo entre 8 e 9 horas da manhã, nada consigo. A ligação só retoma o menu inicial e reforça a mensagem "aguarde". Mais barreiras encontradas pelo cidadão para concretizar sua existência como tal. Desse jeito, esperar uma resposta das autoridades requer uma disponibilidade que o cidadão comum não tem, pois a uma hora como essa estaria trabalhando. Mais tarde, a prefeitura fecha.
Minha mãe decide levar Meimei a uma PetShop, ela está tentando encontrar uma saída mais barata para a situação. O dono do local reconhece não poder agir em casos de virose e a redireciona para uma clínica veterinária de preço acessível. Finalmente, para lá vamos nós.
O diagnóstico aponta para uma provável coronavirose, que, muitas vezes, é confundida com a parvovirose, pois seus sintomas são parecidos. A médica, entretanto, afirma que a segunda é bastante letal, o que em faz que, na maioria dos casos, o cão não passe de um dia para o outro como ocorreu com Meimei.
A consulta sai por 134 reais, minha mãe se endivida um pouco, mas a vida da cadela está mais garantida, afinal, quanto vale esta? Pergunto a ela o que a fez ir ao veterinário, ela responde: "o Renato ter falado para vir até aqui". Pois é, no caso, ela não visualizou mais alternativas e "a voz da experiência", Renato, o dono da PetShop, a recomendava a saída tão esperada por mim.
O tratamento atual da cadela consiste em tomar alguns remédios... A médica injetou no cão alguns soros, o que ela chamou de "imunizador". Isto requer vacinação, o que irresponsavelmente não fora dado na cadela por nós.
Algumas conclusões importantes podem ser feitas a respeito: o otimismo do qual meus pais dispunham ("ela vai ficar bem"; "ela já está até melhor"; pasmem, meu pai disse que ela estava sorrindo; "é claro que ela não vai morrer" - mesmo que as evidências apontassem para isso) era, na verdade, uma arma para não ter que agir. Aqui se vê um exemplo concreto de quando a esperança e o otimismo podem ser usados para justificar ou para se dispor da inanição. Esperava-se que a cura viesse do céu, agindo como pessoas da Idade Média, não usando a razão para resolver problemas.
Tomara que Meimei se recupere...
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