Entretanto, chama muito a atenção um discurso de vitimização e de determinismo intensos, abarcando essa discussão. Como se o ocorrido com gente do passado fosse capaz de determinar o comportamento de quem ali vive no presente.
Para o argumento de que ao decorrer da História houve exemplos emblemáticos de países que conseguiram se reerguer depois de grandes destruições, como Japão e Alemanha, alcançando o ápice mundial de desenvolvimento economico, há o contra-argumento de que em nenhum outro lugar do mundo a população masculina fora tão dizimada quanto no Paraguai, onde a versão tradicional histórica aponta que mais de 90% da população de homens foi morta (inclusive crianças). Costuma-se atribuir a esse fator uma das explicações para o grau de descaso em que se encontra a nação desde então.
Essa argumentação, entretanto, "permite" fazer uma inferencia perigosissimamente machista, que, no entanto, está implícita na mente das pessoas: a de "que a mulher não foi capaz de construir sozinha o país" ou de que "o país é o que é porque ficou na mão das mulheres". Isto constitui um verdadeiro absurdo! Além do mais, esse discurso, na verdade, aponta para uma então desigualdade já anterior à Guerra, a de generos, o que, em si, já começa a desmistificar a condição de idealidade que a História tradicional dá à "efervescente república da América do Sul".
A revista "Superinteressante" trouxe em 2010 uma capa com uma série de desmistificações a respeito da História que é contada no Brasil. Uma delas se relaciona à Guerra do Paraguai. Segundo pesquisadores da USP, mencionados na matéria, a nação "albiroja" não era a segunda potencia do mundo e sim a sexta, da América do Sul e, pelo que parece, a Inglaterra se mostrou bastante receosa frente à iminencia de um conflito já que ela possuía uma série de escritórios no país e uma guerra, portanto, a ela seria desvantajosa.
São versões que conduzem a um refletir: não seria a história do vencido contada sobre a Guerra do Paraguai um meio de tentar atribuir a outrem (Inglaterra, Brasil, Uruguai e Argentina), elementos do passado, a culpa pelo fracasso atual, redimindo-se da responsabilidade que se tem pela transformação da realidade de hoje? A postura de desanimo e preguiça, em vários - é muito comum ver policiais sentados, em horário de trabalho, no Paraguai - não pode constituir um fator a ser excluído para a explicação dessa história. É algo influenciado pela Guerra, mas não apenas. Dentro de uma concepção sartreana, a vontade do indivíduo é tão e mais pesada do que a influencia histórica.
No meio de todo este contexto, é importante sim saber do que, no passado, foi feito para poder cobrar hoje satisfações e "pagamentos" das dívidas históricas feitas, deixando a inanição de lado. Entrentanto, o mais importante a ser lembrado é o papel que as pessoas tem HOJE na construção dessa realidade, ao invés de procurar-se a todo tempo um culpado pelo fracasso economico-social atual.
Apesar de tudo, enquanto ninguém toma uma atitude, é o olhar distante que se nota nos rostos de muitos.
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