quinta-feira, 11 de agosto de 2011

TO DIE "A HUNDRED TIMES"

Encontrada morta em sua casa no dia 23 de julho, Amy Winehouse é mais uma vez um sinônimo de resgate. Destaque por resgatar o blues, o soul e o jazz, só que, de forma original, adaptando-os ao pop, desta vez, seu nome significa um resgate da ampla discussão sobre a droga como materialização da ideia de que a sociedade, ou pelo menos parte dela, já não aguenta mais existir. Estaria a sociedade cansada de viver, de ter que sê-la?



Em foco, o surgimento de novos entorpecentes com potencial de destruição cada vez maior. Uma certa vez, achei impactante o título de uma matéria do Folha; óxi, a pedra de dois reais. Veio a surpresa quando eu soube que até querosene faz parte de sua constituição química. Ele vem se tornando um vício expressivo por ser uma droga barata e ainda mais destrutiva que o crack. Pior ainda foi descobrir um tal de coaxial, um antidepressivo que na Rússia ganhou papel de droga injetável. As consequências são absurdas; partes do corpo do indivíduo entram em necrose.


O ser que visualiza esse resultado e adere ao entorpecente nada mais faz do que exemplificar a ideia sustentada aqui, a vontade de se autodestruir. Por que essa angústia? O que há por trás desse contexto?


Arthur Schopenhauer diria que o que explica essa situação é a dor existencial. Para o filósofo alemão, a dor é parte natural da existência do homem. Neste caso, ao não conseguir extrair uma satisfação da própria realidade, o indivíduo recorre a métodos artificiais para tanto. Cria-se uma atmosfera de fantasia ou de distração, através da qual a ilusão da inexistência do problema é um dos fatores que alimentam o vício. Consegue-se não pensar na problemática. Daí a ideia de fuga, da droga como válvula de escape. Foi a postura que, na literatura, o Romantismo tomou.


Na segunda fase do movimento, o mal do século - que deveria ser entendido como mal dos séculos (no plural), frente à realidade que ele ainda é, encontra na fuga da vida (evasão) ou da sua condição social (escapismo) a solução para os problemas.


O maior problema de tudo isso é que, ao contrário do que dizem muitos viciados, tentando legitimar seu vício ao dizer que a destruição é apenas de si, ela se estende à todos os indivíduos que vivem ao seu redor. Quando Amy abusava da cocaína, também estava matando seus pais, enxendo-os de dor, de angústia e de depressão.


Este caso e o de muitas(os) Amy's é o da imaturidade ou suporte psicológico fraco, além da dificuldade de percepção das dimensões de suas ações. Resolver um problema como este requer medidas muito amplas e complexas, a começar pela educação.


Quando ela estimula muito pouco o aluno a integrar conteúdos e trazer sua experiência para a sala de aula para análises, ele não desenvolve adequadamente seu senso de autocrítica e percepção do ambiente. Pensa-se em jovens de países que tem educação forte que, no entanto, sofrem do mal das drogas. Contudo, no caso da Inglaterra, por exemplo, as experiências do estudante não viram foco de análise nas aulas. Situação diferente da francesa, na qual os alunos têm aulas práticas constantemente. Ou da finlandesa, na qual aprende-se, desde cedo, a lidar com situações cotidianas, como trocar lâmpadas. Integra-se o conhecimento teórico ao prático. Não é à toa que são estas duas últimas sociedades mais equilibradas, pois a capacidade de percepção foi aguçada desde cedo.


No caso brasileiro e da maior parte do mundo, o conhecimento prático e o teórico apresentam-se fortemente dissociados aos estudantes e, ainda por cima, superficiais, pois não conseguem enxergar a viabilidade dos conhecimentos aprendidos e sua relação com eles. Assim, o perceber desse indivíduo já é afetado desde 0 início. São poucos os alunos que conseguem integrar o que aprendem. Os vestibulares vêm apresentando uma tendência a tentar aguçar esse lado na mente estudantil. As consequências serão observadas à medida que isto se acentuar.


Não obstante, é evidente que a reestruturação da educação como um todo é necessária, da preparação do professor até a incrementação de novos padrões de educação nas diretrizes do MEC, no caso brasileiro.


Mesmo assim, há quem diga que a angústia e a depressão são naturais do ser humano, como o filósofo dinamarquês Kierkegaard. Por não conseguir respostas satisfatórias acerca das dúvidas do homem em relação ao mundo, ele se desespera e se sente menos. De qualquer forma, a busca por soluções, diante de qualquer perspectiva pessimista, é uma postura ética. Para Schopenhauer, mesmo diante da ausência de sentido na vida, deve-se fazer o esforço para o bem - uma atitude ética. É fato que, pelo menos, amenizar a doença social é possível, diante de mudanças quanto à maturidade dos indivíduos e assim evitar que mais pessoas morram uma centena de vezes, como a realidade de Winehouse na música Back to Black.

Um comentário:

  1. Amy Winehouse morreu exibindo uma conduta que penso ser deplorável (e que muitos artistas assumem atualmente): a tal "atitude rock n roll".
    Ao invés de tentar exibir a personalidade forte através de atitudes autodestrutivas, por que não imprimir essa garra numa letra de música por exemplo? Os fãs e o artista saem ganhando.

    Parabéns pelo blog!

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