
De bibliografia para bibliografia, os ritmos musicais como a salsa, o merengue, a cumbia, o cha cha cha, e, mais recentemente, o reggaeton, têm cada um origens diferentes (de acordo com a investigação), o que não agrega muito valor, pois todos se manifestam em praticamente toda a América Espanhola. Nas festas do México, de Cuba, da Colômbia e do Paraguai, todos estão presentes. É uma mostra de uniformidade e, ao mesmo tempo, integração cultural, quando se irradiaram de um país para o outro, readaptando o estilo e o devolvendo para o país "de origem" como produto da América.
O Grammy Latino, evento musical de premiação mais renomada no âmbito da música latina, apesar de englobar no nome todos os países latinos, tem quase um monopólio de categorias e artistas relacionados ao mundo hispanohablante.
A cantora espanhola Bebe se apresentou nos últimos anos no México e na Argentina e é esperada por fãs em outros países da América. As mexicanas Julieta Venegas e Paulina Rubio já cantaram várias vezes na Espanha. O fluxo da arte é constante entre essas localidades. A televisão é o grande veículo deste fenômeno, apesar dos exemplos anteriores não serem tão respaldados por ela como o que se mencionará. Artistas como Bárbara Mori (atriz uruguaia), Sebastián Rulli (ator argentino), Angelique Boyer (atriz francesa), Gabriela Spanic (atriz venezuelana), Michelle Vieth (atriz "americana"), Belinda (cantora originalmente espanhola) são todos oriundos de outros países que, não obstante, atuam no México. A trilogia das Marias, protagonizada pela atriz e cantora Thalia - Maria Mercedez, Marimar e Maria do Bairro - foram sucesso em todo o continente e em outras regiões do mundo, sendo exibida em mais de 80 países. Os humorísticos de Roberto Gomes Bolaños, como Chaves e Chapolin Colorado (além de outros sucessos) são conhecidos por todos os americanos. A banda masculina portorriquenha Menudos obteve êxito em toda a América, na década de 90. O exemplo recente mais emblemático é o extinto grupo musical mexicano RBD, que durou de 2004 a 2008, se apresentou em diversos países, caracterizando-se por ser uma febre por todos os países por onde passou e, em função de seu sucesso, cantando no Miss Universo 2007.
Quanto ao intercâmbio lusófono, em programas de auditório portugueses de grande audiência se vê um caso mais restrito de artistas brasileiros como atração da programação. Já no caso dos programas espanhóis, há um fluxo maior dentro da arte hispanoamericana.
É fato que há todo um investimento por trás dessas produções, muitas delas respaldadas pela gigante Televisa, já experiente no mundo das telenovelas e da música a elas atrelada ou não, possibilitando um grau maior de abrangência de suas produções. Neste último caso, há um interesse em financiar até certo ponto a música que sai das telinhas para os palcos da vida real. No caso das redes de TV brasileiras, houve tentativas como os extintos Rouge e Br´oz, lançados pelo SBT através de programas televisivos. Entrentanto, apesar do sucesso nacional, eles não romperam os limites fronteiriços do Brasil, o que provavelmente não vai acontecer com o a agrupação musical oriunda da versão brasileira, produzida pela Rede Record, de Rebelde.
E então vem o questionamento: por que as manifestações artísticas de língua espanhola se irradiam mais do que as brasileiras? Somos tantos - em população e em diversidade de ritmos musicais e manifestações culturais, e, por mais que as produções ficcionais brasileiras sejam de alta qualidade, elas não conseguem se destacar como as hispânicas nos diversos países onde são exibidas.
Pode-se dizer que a língua é o maior obstáculo, pois são apenas 8 países que, no mundo, falam portugues, enquanto que o espanhol é falado por mais de 20 nações. Só que esse argumento é, em parte, rebatido quando analisa-se o sucesso que a novela Rebelde fez no Brasil, na Romênia, na Croácia, na Sérvia e na Eslovênia, países que falam uma língua diferente da qual a novela foi produzida. Seria possível dizer que o caso dos artistas estrangeiros que trabalham no México acontece porque não há diferenças grandes no sotaque do extranjero. Sem embargo, é notável para um venezuelano o acento de quem vem da Argentina, por exemplo, ou de quem vem da Espanha. Então, um ator brasileiro que trabalhasse em Portugal, não seria muito diferente, ainda que, realmente, a distância fonética do português brasileiro e do português angolano, moçambicano e português (estes três últimos sendo muito próximos NO SOM), seja maior que a do espanhol dos países latinoamericanos entre si e entre a Espanha. Temos um caso famoso no Brasil, o do ator português Ricardo Pereira. Outro ator é o mexicano Chico Diaz. Fora esses não me recordo de nenhum.
O que flui entre os países e vem de fora para o Brasil se dá e é a regra. Contudo, o que flui do Brasil para fora é a exceção quando se fala em modas artísticas, vide os exemplos mencionados. E não se pode dizer que o que explica isso é o subdesenvolvimento da nação canarinho, que "o pobre foi doutrinado a acreditar que o é do rico é melhor" pois o México e a América Central são grandes irradiadores e também são subdesenvolvidos. Está por trás disto o Complexo de Subdesenvolvido do qual o brasileiro sofre. É uma herança ideológica da história deste país. Ao decorrer da colonização portuguesa, se manteve até o 1808 - ano da chegada da família real portuguesa, o Exclusivo Comercial ou Exclusivo Metropolitano, uma medida protecionista de Portugal que restringia o comércio da colonia, de modo a fluir a matéria-prima daqui para Portugal e de lá para cá a manufatura, quase unicamente desta forma. Assim, o que havia de "novidade" era realmente aquilo que chegava de fora, pois a produção industrial brasileira era proibida de acontecer, até por insegurança portuguesa de uma possível concorrência da colônia com a metrópole. Também esta se deu assim como também uma medida protecionista por parte de Portugal. Esta situação se manteria até o século XIX, em 1808 com a abertura dos portos - havendo, então, mais variedade de produtos estrangeiros na terra brasilis e em 1846, quando o primeiro surto industrial do Brasil, comandado por Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, despontou. Dessa retrospectiva, ve-se que a História vem a influenciar a construção e funcionamento da cultura brasileira que, por sua vez, ajuda a explicar esse panorama restrito do fluxo internacional musical e televisivo da arte brasileira.
No caso da América Espanhola, a Espanha montara uma estrutura comercial nas colônias que permitia a atuação de outros países da Europa, o que contribuiu para não criar ou não manifestar tão intensamente, por exemplo, o Complexo de Subdesenvolvimento em países como o México. É evidente que o nacionalismo da Argentina e do México tem a ver com a personalidade de seus respectivos povos, a miscigenação pouco expressiva que os caracteriza. Isso contribui para ajudar a irradiar suas culturas, pois elas vêm definidas, o não inferiorizá-las e o lutar para mantê-las.
Vale ressaltar a importância da atuação de Simón Bolívar na luta pela homogeneização da América Latina e, então, implementação de uma única nação. Seu papel ajudou a construir na percepção dos indivíduos latinoamericanos envolvidos a ideia de um conjunto uniforme.
É inegável que forte tradição católica contribui para formar na América Espanhola laços muito fortes entre seus povos; já que são ferrenhamente cristãos. Basta assistir qualquer cena de um melodrama mexicano para ver alguma oração à Virgen de Guadalupe, ou alguma personagem chamada Guadalupe, ou apelidada de Lupita - uma redução de Guadalupe.
A miscigenação histórica dos países latinoamericanos não se deu tão intensamente, isto é, entre muitos povos. Ela ocorreu basicamente, na maior parte dos casos, entre nativos e espanhóis. Isto faz com que haja mais uma homogeneização maior em relação ao Brasil. No caso brasileiro, o qual o escravo teve participação intensa na construção do perfil da identidade brasileira. Além disso, a incorporação da genética de vários povos europeus e dos japoneses a partir do século XIX com as imigrações substitutivas de mão de obra escrava fez com que se criasse no nosso país um perfil muito particular e diferente do de qualquer outro lugar do mundo, o que de certo modo nos isolou culturalmente, principalmente dos outros latinos e, ao mesmo tempo, nos aproximou um pouco de todos (o resto do mundo).
O consumidor da arte gosta de ver que ela está próximo a ele. Esse argumento dá validade aos últimos casos enunciados no intuito de explicar a maior abrangência da cultura hispânica e seus impactos no mundo.
Esta é uma discussão importante, pois envolve a postura dos indivíduos em seu cotidiano, canalizando suas atitudes para a criação de um povo mais autêntico, mais confiante de si e, portanto, mais seguro. Sabe-se que o inseguro é vulnerável. Portanto, ter-se uma nação mais autoconfiante e mais segura é um caminho a constituir um povo menos manipulável e, por conseguinte, menos suscetível a enganações e injustiças sociais.
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