
Em um ano do desmembramento do Pará em discussão e possível fim das ações armadas do ETA na Espanha, volta a discussão sobre os bairrismos existentes no Brasil, principalmente o movimento O "Sul" é o Meu País, do qual discordo plenamente.
A palavra "sul" aparece entre aspas anteriormente para evidenciar ironicamente um mau hábito que se tem de tomar uma parte do sul como se ela constituísse a região como um todo; o Rio Grande do Sul. O bairrismo sulista e sentimento separatista são relacionados majoritariamente com aquele estado brasileiro. Quando se fala em o Sul é o Meu País, "meu" se refere a quem? Paraná e Santa Catarina estão incluídos nesse pronome? Ou ele é uma mostra de uma ideologia por trás de um discurso que visa, na verdade, a supremacia do estado gaúcho sobre os outros sulistas, usando um falso argumento de comunidade sulista para persuadi-la em relação à sua "causa", quando o maior e praticamente único interessado é o próprio Rio Grande do Sul?
Isto é uma especulação, que fique claro, pois me parece muito tendencioso esse discurso bairrista que toma a parte como todo. Se olharmos para o Paraná, um estado mais cosmopolita em relação aos outros sulistas e também de fronteira - o que, de certo modo, rebate a ideia de que o bairrismo é gerado pela fronteira, não há essa questão tão em foco. É justamente nele que se vê a grande invalidade e inviabilidade de uma possível separação do Estado brasileiro. A começar pela forma de viver e pensar do paranaense, principalmente no que toca as cidades de Londrina, Maringá e, de certo modo, Foz do Iguaçu. Não há sentimento de pertencimento a uma terra. A cultura destes locais está mais uniformizada em relação à São Paulo e, por consequência, ao sudeste do Brasil. O sotaque é parecido com o interior de São Paulo - até uma possível herança do período em que o Paraná pertencia ao estado paulista.
A presença de estudantes paulistas que prestam vestibular na UEL e na UEM é maciça. O governo do Paraná exige, por lei, que os vestibulares cobrem 20% das questões de História e Geografia sobre o estado. No entanto, se analisarmos as questões enquadradas nesta condição no último vestibular da Universidade Estadual de Londrina, elas se referem a problemas presentes em qualquer grande metrópole brasileira, apenas mencionando o nome da cidade, mas que, seria facilmente subtituído por Campinas, por exemplo; uma tendência mais universal. Diferente das universidades gaúchas, que, neste caso sim, tentam barrar a entrada de quem provem de outros estados, através de questões extremamente voltadas para o contexto da região.
Sobre o fato de a constituição étnica do sul ser uma realidade à parte da do restante brasileiro, é evidente que há comunidades isoladas, os quistos raciais, compostas, muitas vezes, por alemães ou italianos, como a cidade de Marechal Cândido Rondon. Entretanto, elas são muito pequenas em termo de população absoluta, o que acaba por não caracterizar a população da região como tal.
Pegando um gancho no discurso de que esta região é um lugar culturalmente desintegrado do resto do país, vê-se ainda no norte do Paraná o reforço da inviabilidade da separação em questão. Esta região foi colonizada por NORDESTINOS, MINEIROS e PAULISTAS. E, então, vem-se dizer que há uma realidade cultural distinta? Isso não faz o menor sentido... É a prova histórica de que essa região adotada ideologicamente como isolada do país não o é. Pelo menos não na sua totalidade. Como é que se pode falar em separação, sendo que historicamente essa parte está ligada às outras do país?
A seguir, tem-se no Rio Grande do Sul a maior concentração de praticantes das religiões AFRO-BRASILEIRAS da nação. Novamente; cultura DISTINTA?
A própria presença nordestina foi crucial na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, pessoas que, depois da construção, desempregadas e longe de suas terras natais, acabaram se fixando em Foz do Iguaçu e contribuindo para a formação do perfil do iguaçuense.
Em vista dos fatores apresentados, vê-se no discurso "O sul é o meu país" um conjunto de ideias ultrapassadas. Além do mais, se tomarmos como elemento de discussão o fato de que a riqueza é gerada pelas empresas e que as empresas com o capital acabam subordinando os governos a seus interesses de modo a configurar a realidade a seu favor, a configuração territorial do país é a mais favorável a elas. Os impostos que teriam que ser pagos pelo sul em relação às outras regiões para as exportações seriam desfavoráveis, caso o separatismo se concretizasse. Há um fluxo intenso entre as capitais. A tecnologia gerada em Recife e em Florianópolis que se entrelaça e se difunde é patrimônio do país.
O Brasil é rico pela MISCELÂNIA cultural que apresenta, um grande prato de sabores e variedades que são resultado da INTERAÇÃO de todos os tipos de ingrediente. Dentro desse quadro, tirar algo e tornar o prato menos especial. Mesmo na questão mais concreta possível, a econômica, trata-se de algo totalmente inviável. Grande parte da população brasileira torce para o BRASIL na Copa do Mundo, nas Olimpíadas. Torce para a Miss Brasil no Miss Universo - independentemente da região de onde ela é (algo até pouco questionado pelos brasileiros)... O Brasil assiste às mesmas novelas, aos mesmos realities show e sobre eles discute no dia seguinte. Ele adere à moda que a televisão transmite. A portoalegrense e a soteropolitana usam as mesmas roupas no verão. É evidente que há subculturas espalhadas por todo o canto, mas há uma cultura maior que as abarca e faz com que um brasileiro se identifique com o seu país e o assuma como seu. O Paraná, um estado "do" sul, não é diferente e se diz brasileiro a qualquer um que perguntá-lo sobre sua origem.